Sejamos realistas: peçamos o impossível.
(num muro da Sorbonne em Paris, 1968, ano em que vimos pela primeira vez a Terra a partir do espaço)
A sociedade, com voz amplificada no protagonismo das redes sociais, opina em todos os espaços, discute o ideário de sustentabilidade, apresenta propostas, placebos e soluções espetaculares ao mesmo tempo.
Abre-se espaço para o “bom-mocismo” e ao mesmo tempo abre-se espaço para o protagonismo que até então restringia-se aos diretamente envolvidos, diplomatas, chefes de estado e cientistas.
Tornou-se uma obrigação a agenda de sustentabilidade na COP, e fala-se de ESG como se fosse um grande amigo que devesse ser prestigiado: “não vamos nos esquecer do ESG…”
Isso é bom. Indiscutivelmente bom. É a sociedade migrando, encaminhando-se para um lugar onde essas coisas importam. E é bom que importem, pois nosso destino está ligado a esse conjunto de reflexões. Precisamos disso para garantir a continuidade da espécie, para garantir a vida no planeta.
A grita mais conservadora reclama do exagero do politicamente correto, reclama que já não se pode mais delinquir com o mesmo conforto que outrora. Falam do protagonismo de jovens com destempero, desqualificam ativistas como se fossem anjos inocentes úteis a serviço de falanges do mal.
Alguns grupos apertam o foco em atividades que parecem pífias diante dos problemas apocalípticos que vêm na esteira do aquecimento global, das mudanças climáticas, dos GHG, do permafrost, da falta de comida, da falta de água doce, do aumento da temperatura, da maior crise de biodiversidade que já vivemos depois da extinção dos dinossauros. Precisamos nos lembrar que esses impactos atingem prioritariamente os mais pobres e precisamos, portanto, diminuir a desigualdade.
Temos as questões de inclusão, da diversidade, da vida das minorias. Temos a propriedade da terra, o uso do solo, as comunidades nativas, as florestas, os serviços ambientais, os combustíveis fósseis… E temos o ajuste dos sistemas que regem esse funcionamento, a relação entre o capital e o trabalho. A tarefa é árdua.
Em se tratando da COP e da vida no planeta Terra, na verdade, tudo importa.
A frase que intitula este artigo, escrita em um muro da Sorbonne em 1968, toma um outro sentido quando percebemos que o que parecia impossível não é impossível. É difícil. Para dar certo, para que a roda gire em nosso favor, nós “precisamos romper com os paradigmas falidos do passado”, como dizia o economista polonês Ignacy Sachs*. Precisamos entender que não basta deixar a vida por conta das decisões governamentais, sejam elas quais forem.
Essa movimentação da COP é boa, o saldo é positivo.
Não podemos pensar que a polarização de ideias, que as bravatas irão resolver alguma coisa. Ou que a ciência sozinha vá encaminhar questões fundamentais. Trata-se de uma vida conjunta, de um problema que é de todos. E como dizia o prof. Maurice Strong**, as mudanças só serão possíveis quando o sentimento que as provoca estiver dentro das pessoas, como um item ético e espiritual.
Precisamos saber até onde podemos ir sem destruir esse planeta.
A COP foi ótima. Basta trazer as reflexões obtidas na COP para nossa concepção de mundo e de vida.
A sociedade como um todo, os empresários, a ciência, os governos têm a obrigação de colaborar para um círculo virtuoso mais propício à vida na Terra.
Não podemos perder a crítica ou terminarmos desorientados no cipoal do debate fútil dos confrontos de algoritmos.
La nave va.