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Getting Going: como transformar compromissos em ações para o clima

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Novo relatório “Getting Going” (Vá em Frente) elaborado pelo Climate Group em colaboração com a empresa Oliver Wyman, lançado em setembro, aborda como as empresas podem contribuir para o progresso climático e elenca quatro facilitadores organizacionais essenciais – atenção, visão, operação e accountability – para orquestrar grandes mudanças requeridas e direcionar ações necessárias no universo empresarial.

Lançado às vésperas de um dos principais eventos climáticos globais – a Climate Week NYC 2022 -, o relatório apresenta os resultados de uma pesquisa conduzida junto a 130 profissionais do clima de grandes empresas de diversos setores ao redor do mundo com o objetivo verificar como o progresso climático é percebido, o que impede maiores avanços e como essas barreiras são rompidas.

As maiores barreiras descritas não estão relacionadas ao compromisso climático das empresas, mas como conseguir na prática que as empresas atuem nesse compromisso. Notadamente, a necessidade de estratégia foi o aspecto que mais se sobressaiu durante a pesquisa.

De acordo com os autores do estudo, profissionais e empresas que possuem uma estratégia clara do papel que querem desempenhar na transição climática vêm o Escopo 3[1] (emissões indiretas de gases de efeito estufa) como uma oportunidade de gerar impactos maiores que si próprios e não apenas como um desafio de mensuração. Eles colocam ainda que as métricas deveriam ser utilizadas como parâmetros para incentivar a mudança, no entanto, sem uma estratégia acordada elas se tornam ineficazes, fazendo com que as organizações passem a concentrar seus esforços em mudanças incrementais de curto prazo que não alcançarão o que é necessário.

Na pesquisa foram identificados quatro facilitadores organizacionais essenciais responsáveis por impulsionar a ação climática corporativa – atenção, visão, operação e accountability:

  • Como manter a atenção das pessoas focada na questão climática em face de outras prioridades concorrentes?

Segundo aponta o relatório, é crucial trazer uma sensação de urgência para o tema, conseguir adesão para a necessidade de mudança e colocar a mudança climática nas agendas de lideranças. Com base nos dados levantados, para romper as barreiras identificadas – confusão, distração, passividade e oposição – é fundamental enquadrar o caso da ação climática em termos comerciais e de negócios e integrar com esfera ampla de ESG.

Algumas empresas também têm investido com sucesso em programas educacionais ou sessões de treinamento que conectam a ação climática com os papéis específicos dos indivíduos nos diferentes níveis da organização como forma de aumentar seu engajamento. Ademais, muitas organizações têm utilizado lideranças climáticas, para impulsionar a mensagem e a agenda climática ao longo de todos os níveis do negócio. 

  • Como as empresas criam a visão necessária para trazer ambição e coerência para seus esforços climáticos?

Os autores do relatório têm uma visão que destaca a importância da coragem de considerar uma mudança radical para o negócio, fixar ambições significativas em um contexto de mudanças rápidas e abraçar as incertezas.

“ […] assumir os riscos é essencial, porque o que é necessário vai além do que é conhecido hoje. Existem inúmeras histórias de negócios que assumiram esses riscos e viram benefícios enormes que não podiam garantir antecipadamente”.

Uma das abordagens recomendadas é focar em soluções dentro de áreas específicas, ao invés de tentar inovar em todas as áreas.  Além disso, garantir a integração e o alinhamento entre a visão climática e as metas do negócio pode apresentar tanto vantagens econômicas quanto ambientais.

  • Como traduzir a visão das empresas em operação em escala?

Ao se tratar da operação, as barreiras encontradas se referem ao que impede as pessoas de serem capazes de executar a transição das empresas, mesmo tendo uma visão de onde querem chegar. Para transpor esses obstáculos, o relatório sugere decompor a visão em passos acionáveis e gerenciáveis, mantendo o objetivo final à vista; internalizar a ação climática em processos e estruturas em toda a organização; influenciar e inovar a cadeia de fornecimento e; inovar e mudar o modelo de negócio conforme necessário.

Em termos de accountability as barreiras descritas pela pesquisa são tanto internas quanto externas. As internas se concentram em questões como quem é responsável pela mudança e se há equilíbrio entre o que se divulga e o que se faz. Já as externas se referem à existência de metas apropriadamente ambiciosas ou se a ação está paralisada pelo medo de acusação de greenwash.

A tarefa de reportar metas e demonstrar como estão fundamentadas pode contribuir interna e externamente para compreender os esforços climáticos de uma empresa, aumentar a participação de stakeholders, trazer maior transparência para seus negócios e reduzir a exposição ao risco. Nesse sentido, a pesquisa revela que muitas empresas e indústrias do mesmo setor têm trabalhado em conjunto com órgãos reguladores para estabelecer métricas e padrões para garantir que estão considerando, medindo e relatando os indicadores certos.

Em relação ao modelo de operação, a pesquisa revela que o estabelecimento de papéis compartilhados, porém claros, ao longo da organização e a seleção de métricas corretas para rastrear e comunicar o progresso são aspectos cruciais ao se tratar de accountability. O delineamento de indicadores chave de progresso (do inglês, key progress indicators) e de alvos que conduzam à mudança necessária podem levar ao estabelecimento de métricas importantes de impacto para além da pegada de carbono.

Segundo os autores do estudo, as respostas obtidas e os relatos dos profissionais climáticos entrevistados na pesquisa demonstram o papel crítico e frequentemente ausente da estratégia.

“Sua importância pode parecer óbvia, mas a origem da ação climática, pressionada desproporcionalmente por investidores, têm em alguns casos favorecido o foco em métricas de emissões e divulgações à frente da estratégia para enfrentar a transição”, pontuam os autores.

Embora muitas empresas tenham se comprometido em zerar suas emissões até 2050, poucas apresentam detalhes de como pretendem chegar lá. Ainda que tenha havido progresso na ação climática nos últimos anos, as emissões continuam indo na direção oposta, fato que tem causado inquietude na comunidade científica. “Isso nos faz sentir bem, mas não estamos realmente fazendo o trabalho”, disse Catherine McKenna, presidente do Grupo de Especialistas de Alto Nível em Compromissos Net-Zero das Nações Unidas em entrevista[2] a Time durante a Climate Week NYC 2022.


[1] O escopo 3 abarca as emissões geradas ao longo de todo o ciclo de vida de produtos e serviços da empresa, incluindo fontes sobre as quais a mesma não tem controle direto.

[2] Acesse a matéria completa: https://time.com/6216834/new-york-climate-week-greenwashing-corporate

Acesse o relatório completo: https://www.theclimategroup.org/getting-going


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