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Keel: pessoas e empresas mudam suas práticas por um mundo mais sustentável. Assista!

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Com depoimentos de pesquisadores, empresários, representantes da sociedade civil e lideranças dos povos da floresta, documentário dirigido por Duto Sperry revela que o modelo de desenvolvimento que prevaleceu até agora ameaça o bem-estar das futuras gerações e a riqueza biológica do planeta.

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A temperatura média do planeta aumentou 1,1º C desde o período pré-industrial. Se chegar a 2ºC até o final do século, as consequências serão desastrosas, alertam os cientistas. O nível dos oceanos vai se elevar e cidades inteiras sumirão do mapa. A biodiversidade será reduzida – os recifes de coral poderão desaparecer. Eventos climáticos extremos se tornarão comuns e prejudicarão a agricultura. A insegurança alimentar atingirá duramente os mais pobres.

É um desafio grande demais para ser deixado apenas nas mãos dos governos. Empresas, sociedade civil, centros de pesquisa e povos da floresta sabem disso e se engajam cada vez mais na busca por práticas sustentáveis que ajudem a preservar os recursos naturais e a garantir o bem-estar das futuras gerações.

O recém-lançado Keel (quilha, em inglês), documentário de Duto Sperry, mostra que, apesar dos cenários preocupantes, há motivos para se ter esperança. Com depoimentos de empresários, cientistas, ativistas, ribeirinhos e indígenas, revela a força dos esforços de diferentes setores da sociedade em favor do desenvolvimento sustentável.

Como lembra Clayton Lino, presidente do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, o conhecimento científico e as tecnologias necessárias para o combate às mudanças climáticas estão à nossa disposição. Mas isso não basta. É uma batalha difícil demais que só será vencida se “envolver toda a sociedade”.

O sucesso contra esse cenário tenebroso depende da união do poder público, das empresas e dos cidadãos, avalia Luciana Coen, diretora de responsabilidade social da empresa de software SAP Brasil. “A única maneira de sairmos dessa crise de sustentabilidade é com essas três forças juntas”, afirma. “Sem um desses, a gente não sai do outro lado.”

As empresas estão se engajando de diferentes formas no esforço pelo desenvolvimento sustentável. Oskar Metsavaht, fundador e diretor de criação da Osklen, mostra que ousadia e criatividade podem ajudar nessa tarefa. O empresário apresenta no documentário as inovações do tênis AG, entre elas a palmilha composta por material oriundo da cana-de-açúcar produzida de forma sustentável e couro de pele de pirarucu fornecido por projeto socioambiental do Acre.

As iniciativas sustentáveis carregam sempre uma preocupação social, mostra o documentário. Para criar empregos no semiárido do Rio Grande do Norte, estado onde nasceu, a Riachuelo aderiu ao Pró-Sertão, programa estadual de incentivo à geração de empregos em municípios de baixa renda – mais de 5 mil vagas já foram criadas. O objetivo, diz Marcella Kanner, diretora de Comunicação do Instituto Riachuelo, é ver a região virar “um grande polo têxtil”.

A ciência oferece hoje ferramentas que permitem a criação de negócios rentáveis e sustentáveis mesmo dentro da floresta. Ainda em fase inicial, um dos projetos mais promissores é o Amazônia 4.0.. A ideia é que investimentos em tecnologias de ponta e na capacitação dos povos da floresta gerem desenvolvimento econômico, inclusão social e preservação da biodiversidade. “Existe muita riqueza biológica que pode ser transformada em riqueza econômica na região, envolvendo as próprias comunidades, que são os guardiões da floresta”, afirma o biólogo Ismael Nobre, coordenador do projeto.

Keel fez sua estreia no Hub-E, evento realizado no início de outubro na cidade de Milão (Itália) durante a programação da pré-COP26 (a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), que aconteceu semanas depois em Glasgow (Escócia). Assistiram ao documentário empresários, empreendedores culturais e pensadores reunidos na cidade italiana para discutir os desafios do desenvolvimento sustentável.

Duto Sperry escolheu o título Keel (quilha) por expressar a convicção de que, assim como a quilha de um navio vence a resistência das ondas de um mar revolto, tomaremos atitudes que conseguirão reverter o quadro de degradação social e ambiental que assola o planeta. Além dos depoimentos citados acima, o documentário traz também reflexões de Ailton Krenak (escritor e líder indígena), Jean Pierre Ometto (pesquisador do Inpe), Thelma Krug (pesquisadora do Inpe), entre outros.

Ao final, o documentário traz um depoimento tocante de Maurice Strong (1929-2015), que presidiu a Conferência de Estocolmo em 1972 e a Eco92, realizada no Rio de Janeiro, marcos da agenda do desenvolvimento sustentável. O ambientalista canadense lembra que, para salvar o planeta, não bastam compromissos assumidos em reuniões de cúpula. O sucesso depende do comprometimento de todos os cidadãos, motivados por uma necessidade interior. Trata-se de “uma questão moral e espiritual”, afirma Strong.

Faz muito tempo que nós estamos perdendo a capacidade de ouvir a voz da floresta e o canto dos rios, inclusive porque neles já não corre mais água.

– Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista e escritor.

Estamos vivenciando um processo de extinção substancial da diversidade biológica do planeta.

– Jean Pierre Ometto, pesquisador do INPE.

Temos que prestar muita atenção no conhecimento científico que está à nossa disposição, utilizar todas as tecnologias que conseguirmos e, principalmente, envolver a sociedade nesse novo desenho.

– Clayton Lino, presidente da Reserva da Biosfera da Floresta Atlântica.


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